14. Bob Verschueren
"Le clan des voltigeurs" e "Chemin de vie"
Bob Verschueren utiliza os elementos da natureza como forma de expressão. Utilizando plantas do local em questão, transforma árvores, ramos, folhas... em esculturas espetaculares, evocando simultaneamente o esplendor e a decadência de todos os seres vivos. Cada peça desenvolve uma reflexão sobre o ser humano, a sua vida e morte, e a sua relação com o seu ambiente natural.
«Na grande maioria dos casos, os materiais utilizados são resíduos. A passagem do estatuto de «natureza» para o de «lixo» é um dos pontos centrais das minhas reflexões. Encaro o meu trabalho como uma espécie de iniciação, em que a natureza me dá verdadeiras lições de filosofia e de vida».
«Cada uma delas é uma metáfora, não um símbolo. Não quero encapsular as minhas instalações em leituras obrigatórias ou unívocas. Prefiro mantê-las abertas à leitura de cada um, com a sua própria sensibilidade, às suas próprias conclusões. Procuram que tenham uma natureza orientada para os acontecimentos. Quando uma instalação entra em ressonância com o local que a recebe, torna-se evidente, estabelecendo uma tensão entre a intemporalidade da proposta e a sua natureza efémera», explica o artista.
Le clan des voltigeurs, 2023
Esta nova instalação no Domaine reúne, no topo de três ramos, erguidos na vertical como um bouquet, 250 paralelepípedos, a maior parte dos quais são caixas de nidificação para gaviões, uma espécie rara em vias de extinção.
Chemin de vie, 2020
REFERÊNCIAS BIOGRÁFICAS
Artista belga conhecido e exposto em todo o mundo, autor de numerosas exposições e cuja obra é objeto de vários catálogos, Bob Verschueren faz parte do movimento vegetal, representado, entre outros, por Nils-Udo e Andy Goldsworthy, movimento que dá seguimento ao Land Art. Instalações interiores ou exteriores, wind painting, light painting, fitogravuras, obras sequenciais onde o tempo atua sobre materiais perecíveis, o artista mantém uma elação muito forte com a natureza e a matéria, com o tempo e o espaço. A sua prática artística integra uma reflexão ecológica e filosófica que lhe confere uma grande coerência. As suas intervenções em vários locais (estações de comboio, igrejas, museus, instalações industriais abandonadas, galerias de arte ou no meio da natureza) colocam em cena folhas, ramos, cepos, musgo, legumes, cogumelos, borras de café, espigas de trigo, vasos de terracota, farinha, pigmentos naturais, pedras ou seixos, contando histórias tão fascinantes como efémeras, repletas de uma estranha beleza e de força.
Bob Verschueren é um artista plástico autodidata, nascido em Etterbeek na Bélgica em 1945. Inicia a sua carreira artística no final da década de 60 com a prática da pintura. Em 1978, volta-se para a Land Art, realizando wind paintings, pigmentos naturais espalhados na paisagem pelo vento e light paintings, técnica fotográfica que permite fixar a luz ao mover uma fonte de luz à frente da objetiva. A partir dos anos 80, decide utilizar apenas materiais naturais, especialmente, plantas. Desde então, realizou mais de 300 instalações na Europa e no mundo.
Para cada uma das suas obras, Bob Verschueren garante que a arquitetura do local, a natureza e o material escolhido estão em perfeita harmonia. Deslocados do seu ambiente natural, os elementos recolhidos estão condenados, na sua maioria, à decomposição. Questiona assim constantemente a ligação indissociável entre a vida e a morte. Explora também outras áreas, como o som (Catalogue de plantes, lançado em 1995), a gravura (Phytogravures, lançadas em 1999), a fotografia e a raspagem. Um terreno baldio, uma floresta, um espaço de exposição, todos se tornam espaços experimentais para ele.
Entre as obras mais recentes, muitas são permanentes. Assim, em Bruxelas, na Maison d'Erasme e no Jardin des Visitandines, duas instalações foram concebidas como convites à meditação dentro da cidade. Tendo sido convidado várias vezes para participar no percurso artístico francês Annecy Paysages, Bob Verschueren produziu várias peças, três das quais podem ser vistas ao longo do ano e testemunham a evolução recente da sua obra. Composta por 10 árvores montadas em pares e plantadas na terra, com as raízes no ar, La Haie d’Honneur atravessa uma alameda dos Jardins de l’Europe. A obra é simultaneamente uma homenagem às árvores mortas e um incentivo aos habitantes das cidades para celebrarem a natureza. Do seu lado, L’Arbre Pourfendu alude à profundidade dos contos filosóficos de Italo Calvino (O Visconde Cortado ao Meio), um autor caro a Bob Verschueren. Um tronco nu é perfurado por uma árvore jovem e frágil. É uma nova querela entre o velho e o novo? Ao surrealismo da cena, o artista acrescenta a epopeia das batalhas mitológicas, onde as árvores, tal como os homens, se comparam entre si. A terceira, Implantations, é uma estrutura extraordinária, uma espécie de aldeia empoleirada para pássaros, uma árvore cujos ramos suportam casinhas amontoadas. O artista trata os pássaros como uma comunidade humana e oferece-lhes uma cidade mágica e utópica.
Bob Verschueren é membro da Real Academia da Bélgica na classe de Artes.