F. Henrique Oliveira
"Momento fecundo"
Pintor e escultor, Henrique Oliveira utiliza um material pobre muito comum no Brasil para criar obras de um poder plástico e visual excecional: o contraplacado ou a madeira de paliçada de obras. Trabalha geralmente em harmonia com a arquitetura onde adapta as formas, as cavidades e as fissuras e as suas esculturas estão associadas à colagem e à montagem. Mais flexível do que a madeira dos seus primeiros trabalhos, o contraplacado adapta-se com flexibilidade às formas orgânicas espetaculares criadas pelo artista. «As minhas instalações são mais paredes vivas feitas de carne, pele gasta ou ainda grandes pinturas». Como troncos de árvores ou raízes torcidas por forças poderosas ou ondas terrestres fantásticas, as suas esculturas também são pinturas que parecem mover-se e arrastar-nos para um turbilhão fascinante.
Foi num dos grandes celeiros do Centro da Quinta que Henrique Oliveira escolheu instalar uma obra híbrida, quase viva e parecendo emergir literalmente das paredes de pedra. Criou uma espiral impressionante que se enrola nas estruturas e escadas do edifício, como uma serpente enorme ou uma raiz enterrada há décadas na pedra e que começa a crescer subitamente de forma descontrolada. A obra divide-se entre o animal e o vegetal. Aqui, o artista faz referência à serpente do Principezinho que engole um elefante. Mas, como para Gaston Bachelard (La Poétique de l’Espace), o celeiro é, para ele, o local do inconsciente e das forças obscuras e desconhecidas. Na verdade, ninguém sabe onde começa e onde acaba a obra e quando é que este reptil ou esta raiz gigante vão parar de crescer inexoravelmente.
REFERÊNCIAS BIOGRÁFICAS
Henrique OLIVEIRA
BRASIL
Nascido em 1973 em Ourinhos, Brasil, Henrique Oliveira vive e trabalha em São Paulo. Licenciado pela Universidade de São Paulo em 1997, cria desde 2003 instalações no local utilizando, na maioria dos casos, materiais provenientes do contexto urbano, nomeadamente a madeira de tapumes provenientes de paliçadas de obras recolhidas das ruas de São Paulo.
Ponta de lança da jovem geração de artistas brasileiros, Henrique Oliveira expõe regularmente no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. Em 2013, integra o quadro do SAM Art Projects, no qual apresenta a instalação monumental «Baitogogo» no Palácio de Tóquio.
O seu trabalho é representado pela Galeria GP & N Vallois, Paris e pela Galeria Millan, São Paulo.